quinta-feira, 10 de julho de 2014

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Físico Mario Schenberg recebe homenagem na UFRPE!





    Mesa redonda, que lembrou o centenário do cientista, abordou a produção científica,   envolvimento com o universo artístico e participação política esquerdista do estudioso.                    

    Se estivesse vivo, o físico Mário Schenberg, completaria cem anos nesse último dia 02/07. Com o intuito de homenagear este pernambucano, que teve grande importância para o desenvolvimento científico no Brasil e no mundo, aconteceu na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), nesta ultima sexta feira (02), uma mesa redonda, em homenagem ao centenário do estudioso.    

     Schenberg é considerado o maior físico teórico do Brasil. Em sua vida acadêmica,  publicou trabalhos nas áreas de termodinâmica, mecânica quântica, mecânica estatística, relatividade geral, astrofísica e matemática. Trabalhou com José Leite Lopes e César Lattes, e foi assistente do físico ucraniano Gleb Wataghin. Além disso, colaborou com inúmeros físicos de prestígio internacional, como George Gamow e o astrofísico indiano Subrahmanyan Chandrasekhar. Teve  forte atuação também no Brasil, sendo presidente da Sociedade Brasileira de Física de 1979 a 1981 e diretor do Departamento de Física da Universidade de São Paulo de 1953 a 1961, onde também foi professor catedrático.


     No evento dessa sexta feira, participaram o biógrafo de Schenberg e professor da PUC-SP, José Luiz Goldfarb, o professor da UFPE e diretor do Espaço Ciência, Antônio Carlos Pavão, o artista plástico Montez Magno, o professor da EAD da UFRPE e coordenador do projeto Desvendando o Céu Austral, Antônio Carlos Miranda, além da filha do cientista, a geneticista, Ana Clara G. Schenberg.

     Os convidados falaram sobre a importância do pensamento do físico, tanto no contexto científico, quanto no posicionamento em relação às questões políticas, sociais e educacionais. “Tive a oportunidade de entrevistá-lo, juntamente com o Professor Ricardo Ferreira, para uma revista de esquerda. Pudemos ver claramente as tendências políticas do professor Schenberg, quando ele se posicionou contra o acordo nuclear Brasil-Alemanha, promovido pela ditadura, e quando defendeu um ensino de ciências mais pautado na prática, incentivando os jovens à pesquisa, sem aquela rigidez que, muitas vezes, a universidade tem”, destacou Antonio Carlos Pavão, relembrando também a atuação de Schenberg na reivindicação política, através do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Por conta desse envolvimento, ele acabou sendo preso e exilado pelo regime militar.     

     Essa perspectiva prática do físico pernambucano foi o que impressionou o professor e escritor José Luiz Goldfarb. “Digo que infelizmente não o conheci antes, porque ele estava sendo caçado pela ditadura. Antes de conhecê-lo, estive no Canadá, onde pude ter contato com os nomes que eram considerados os maiores cientistas da época. Nenhum deles, na minha perspectiva, se mostrou mais sábio do que Mário Schenberg. Ele mudou minha vida de forma concreta. A partir do contato com ele precisei mudar mais profundamente”, afirmou Goldfarb, que, em sua fala, também abordou trabalhos e parcerias desenvolvidos no campo científico, além de uma das grandes paixões de Schenberg: a arte.


     “Quando a situação de perseguição da ditadura aumentou, não foi dos acadêmicos, mas sim dos artistas, que Schenberg teve seu maior apoio. Nesse sentido, ele participou ativamente de vários movimentos, acolhendo artistas e escrevendo textos sobre arte e manifestos”                                 


     Foi nesse contato com o universo artístico que Schenberg conheceu Montez Magno. “Conheci Mario em São Paulo, e lá ele me ajudou com uma exposição, que estava difícil de emplacar. Ele também escreveu um texto para o meu catálogo. Daí nossa amizade teve longa data. O que mais impressionava era seu vasto conhecimento e isso incluía claro, a questão da arte. Lembro de uma vez em que ele falou quase duas horas sobre arte chinesa” comentou o artista.    

     O que mais impressionava Ana Clara Schenberg, em seu pai, era a coragem. “Desde pequena o via na cadeia. Era complicado porque eu sabia que ele não era bandido, mas chamava a atenção o modo como ele lidava com essas situações, quase como um zen budista”. Bastante emocionada, Ana Clara, trouxe uma carta, escrita por Schenberg para ela, enquanto estava escondido na casa de amigos, fugindo da ditadura militar. O texto ilustra bem a postura do físico em relação aos problemas que estava vivendo. Apesar da perseguição, ele diz que está aproveitando o tempo para pensar e para colocar a leitura em dia, tranqüilizando a filha.

     Ao final, o professor Antônio Carlos Miranda, da UFRPE, destacou a importância do evento para a preservação da memória do físico. “Apesar de sua relevância, vemos que Schenberg ainda não é tanto lembrado quando deveria. Agora, nós, que estamos aqui, podemos ser multiplicadores, divulgando a importância e os trabalhos desse grande cientista”, frisou.  O estudante do curso de física à distância da UFRPE, José Fábio, será um desses multiplicadores. “Eu não conhecia nada sobre Mario Schenberg. Então, esse encontro foi muito interessante, pois pude saber sobre sua história e seus estudos. Vou divulgar essas informações no meu pólo de EAD, na cidade de Limoeiro”, disse.    

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O Programa 'Desvendando o Céu Austral' tem como missão principal a inclusão social, usando para isto estratégias de incentivar e despertar interesses em conhecer a história da ciência, em particular da astronomia, em Pernambuco.

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